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Confissões de um Espião
Depoimento
do chefe da espionagem da Telecom Italia à Justiça
revela como a empresa se aproximou da Polícia Federal
e da Abin na maior disputa empresarial do País, em busca
do comando da Brasil Telecom |
Por Leonardo Attuch
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Há
um ano, às 10h40 do dia 14 de setembro de 2006, o executivo
italiano Angelo Jannone compareceu à sede da Procuradoria
de Milão, Via Freguglia número 1, e sentou-se
diante do procurador Fábio Napoleone. Jannone, ex-chefe
da área de segurança da Telecom Italia, empresa
que controla a operadora de celulares TIM e é acionista
da Brasil Telecom (BrT), falou por mais de três horas.
Saiu de lá apenas às 14h25, depois de reler com
atenção e rubricar as 25 folhas do depoimento
que prestou à Justiça italiana. No documento secreto,
obtido pela DINHEIRO, Jannone narrou fatos que ajudam a decifrar
uma das mais complexas disputas empresariais da história
do País: a luta pelo comando da Brasil Telecom, que opunha
a Telecom Italia ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.
Os pontos mais surpreendentes do testemunho de Jannone dizem
respeito à forma como a Telecom Italia se aproximou de
duas instituições do governo brasileiro – a Polícia
Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) – numa tentativa de conseguir apoio na guerra comercial
empreendida contra Dantas (leia trechos nos destaques ao longo
da reportagem).
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O
executivo revelou os contatos que manteve com Mauro Marcelo,
ex-chefe da Abin, e com um policial aposentado conhecido como
Álvaro, que, segundo as investigações
italianas, manteria boas relações com a cúpula
da PF. Além disso, Angelo Jannone também confirmou
os pagamentos feitos pela Telecom Italia ao detetive particular
Eloy Lacerda, de São Paulo, e a dois ex-funcionários
do Opportunity, Luís Roberto Demarco e Marcelo Elias.
Com esse time, Jannone montou sua ofensiva contra Dantas,
que, em 2004, foi alvo de uma ação da Polícia
Federal: a Operação Chacal. À época,
o Opportunity e a empresa Kroll eram acusados de “espionar”
o governo federal. Em função disso, cinco funcionários
da Kroll foram presos – Dantas escapou por pouco, mas perdeu
o comando da empresa de telefonia.
Angelo
Jannone, um ex-carabiniere da polícia italiana, desembarcou
no Brasil em 2004. Veio trabalhar ao lado de Paolo Dal Pino,
que à época presidia a Telecom Italia no Brasil
e tinha a missão de pavimentar boas relações
com o governo e com a mídia. Além dos recursos
diretos da operadora de telefonia, Jannone contava com um
orçamento paralelo, de 1,2 milhão de euros por
ano, que era usado em operações especiais e
no pagamento de colaboradores. Segundo seu depoimento, tais
recursos saíam da matriz italiana, eram repassados
a uma empresa inglesa chamada Business Security Agency e depois
eram transferidos a outros membros da equipe de segurança
da Telecom Italia, como Mario Bernardini – foi este outro
espião quem, em uma delação premiada,
entregou todo o esquema à Procuradoria de Milão
e fez com que Jannone fosse chamado a depor. Depois de chegar
às contas de Bernardini, no private bank do Credit
Suisse, o dinheiro finalmente era repassado a fornecedores
da Telecom Italia no Brasil, como a dupla Demarco-Elias. O
contrato dos ex-funcionários do Opportunity chegava
a US$ 500 mil, segundo o depoimento; o do detetive Eloy Lacerda,
diz Jannone, era de €300 mil – o que Lacerda nega. DINHEIRO
também teve acesso a extratos bancários de Bernardini,
cujo sigilo bancário foi quebrado por ordem da Justiça
da Suíça, numa investigação por
corrupção, enriquecimento ilícito e lavagem
de dinheiro. No dia 2 de fevereiro de 2005, Elias recebeu
US$ 50 mil. No dia 13 de julho de 2005, outra transferência
no mesmo valor foi realizada para uma conta de Elias no Banco
Safra, de Nova York. Os extratos também revelam uma
transferência de US$ 30 mil à J.R. Assessoria
Contábil, no dia 11 de julho de 2005. Tal empresa,
segundo Bernardini disse ao jornal Folha de S.Paulo, pertenceria
ao ex-policial João Álvaro de Almeida, supostamente
ligado a dirigentes da Polícia Federal. Em outubro
de 2006, o articulista Diogo Mainardi, da revista Veja, mencionou
a existência desses depósitos numa de suas colunas,
mas não apresentou os documentos bancários.
Os extratos, em poder da DINHEIRO, confirmam a informação.
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A
parte
mais rica do depoimento de Angelo Jannone, no entanto, diz respeito
à participação de Mauro Marcelo, então
diretor da Abin, na história. No depoimento, Jannone
contou que, no início de 2005, foi levado ao ex-chefe
da Abin por Eloy Lacerda, que já prestava serviços
para a Pirelli, à época controladora da Telecom
Italia. Naquela reunião, também esteve presente
o ex-deputado Robson Tuma, filho do senador Romeu Tuma (DEM/SP).
Antes de encontrá-los, Jannone disse que consultou Demarco
e este o incentivou a aceitar o convite dizendo que tanto Marcelo
quanto “Tuminha” estariam “a soldo” de Daniel Dantas – portanto,
seria importante convencê-los a mudar de lado.
Sou um cérebro, Watson. O restante de mim é um mero apêndice”
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